quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Fay Grim





Hoje vi Fay Grim do Hal Hartley, ótimo filme pra quem gosta de ação, um toque de comedia, enquadramentos "autorais" e uma boa edição baseada na narrativa alternada das ações. Os enquadramentos são muitas vezes construídos com uma angulação "torta" que não seguem uma linha de um eixo horizontal (do chão), a câmera é colocada com ângulos diferentes dos convencionais (geralmente, quando o piso não é irregular 90°) o que cria uma sensação de estranheza, porém os personagens ficam equilibrados nos quadros, é come se virassemos a cabeça de lado para ver uma pessoa, as linhas do que compõem o cenárioquase sempre na parte das bordas do quadro formam ângulos creio que de uns 30° em relação ao eixo da câmera, o que confere aos enquadramentos muita elegância, sendo uma marca de Hartley.
Já a historia é sobre uma mulher que procura seu ex-marido Henry, que envia objetos estranhos para seu filho com Fay (Ned Grim). Um dos objetos é uma espécie caixa "mágica" em que gira-se uma alavanca e se vê coisas, no caso cenas de sexo dentro da caixa, Ned vê as cenas e acaba se envolvendo em problemas na escola por mostrar a caixa pra meninas e se envolver secxualmente com elas dentro da escola. Aos poucos os personagens descobrem que há uma mensagem por traz das cenas da caixa, ajudado por um padre (pensavam que era latina), por um rabino e por um religioso islâmico acabam descobrindo que há algumas palavras em turco, e as imagens são de um harén. O subtexto religioso e político fazem parte da trama e de uma visão irônica sobre o fanatismo religioso e o intervencionismo americano. Um agente americano Fullbright interroga Fay sobre seu ex-marido Henry, e ela descobre que Henry havia escrito um livro sobre sua passagem pela américa latina através do editor Angus, e descobre que ele foi um agente da cia, mas que depois havia se juntado aos terroristas islamicos , e que estava vivo. E em seu lugar havia sido preso o escritor Simom Grim, por causa de seu livro que deixaria pistas sobre satélites americanos. Não contarei toda a história integral, vou resumir e não contar o final. Então, Fay Grim viaja para Paris e conhece um homem chamado André que é um terrorista árabe, e tb é seguida por uma mulher terrorista israelense ortodoxa, tb é seguida por Fullbright, com o qual tem contato. A trama começa a esquentar mais do meio para o final do filme, então ficamos mais envolvidos com a personagem de Fay (Parker Posey) que além de bonita, elegante e bem interpretada a medida que se "envolve" com o terrorismo para achar seu marido passa a ser uma mulher muito corajosa , descobre-se que seu marido é amigo de um chefão da jihad islâmica. O filme trata sobre espionagem, e de um certo modo satiriza e coloca em evidência temas como os golpes militares na américa do sul, a guerra entre Russia e Afeganistão e o envolvimento dos EUA com esses conflitos, mas as ações se passam nos dias atuais, e é aparente o questionamento sobre a guerrra contra o terrorismo deBush. O filme consegue mostrar que essas ações são de terroristas e agentes americanos são vazias de sentido em si mesmas. Como quando a personagem Bebe K. acaba sendo alvejada por um policial na Turquia, local onde se encontra o marido de Fay e onde termina o filme.
Não vi o filme de 1997 As Confissões de Henry Fool do Hartley, mas soube que esse filme é uma espécie de continuação deste, que envolve os personagens de Henry e Fay (informações do site omelete e cinética). Tb nesses sites encontro a informação que Parker Poser foi uma musa do cinema indie americano, não sei sobre esse cinema indie, mas parece, segundoa cinética o cinema americano independente do início da década de 90, ai se inclui Hal Hartley. Mas mesmo sendo musa em outros tempos nesse filme Parker realmente é muito talentosa na interpretação de Fay.
Bom, o filme vale muito a pena. Hal Hartley Cineasta americano figura importante do cinema independente dos EUA nos anos 90 fez um ótimo trabalho tb nesse filme. Algumas cenas de ação e embates entre os agentes, terroristas e Fay, são feitas com seqüências de fotografias editadas com cortes rapídos, são simples e funcionam bem na ação, pois a imagem fotográfica fica marcada pelos movimentos da personagem, os chamados borrões, que são criados quando se fotografa com uma velocidade baixa de abertura e fechamento do obturador. No começo do filme alternam-se créditos com fotografias da bela Fay que se movimenta, movimento esse que provoca os borrões que se assemelham ao "flou" de quadros impressionistas. O humor colocado de forma sútil nas cenas é muito bom, como por exemplo no momento em que Fay e Bebe (que ainda não se conhecem, mas que se olham) estão no banheiro e um celular escondido toca e Bebe grita de pavor. Simples e elegante.

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